O Consumo da Simplicidade
Como diz Eduardo Gianetti da Fonseca, “o futuro vem do futuro”, mas é possível vislumbrar um movimento que deverá nos acompanhar nos próximos tempos: a simplicidade como base do universo de consumo. Pode ser que alguma vertente desta tendência seja aniquilada pelos tempos instáveis em que vivemos, mas outras serão absorvidas em uma nova dinâmica que começa a se formar.
Sabemos que não sabemos onde iremos parar, mas o que está acontecendo no mundo é uma mudança a fórceps de uma civilização de excessos. Excesso de inconsciência em relação à sustentabilidade, excesso de insensibilidade em relação ao próximo e a responsabilidade social, excesso de consumo predatório, excesso de valores equivocados, excesso de “eu ganho-ganho”. Na vida econômica, como na pessoal, às vezes precisamos ser forçados a mudar. Sem o caos econômico não iríamos fazer alguns sacrifícios importantes deste processo de mudança.
Na civilização que ora se vai, o mundo sustentava-se em um equilíbrio entre a China na produção e os Estados Unidos no consumo. O consumo desenfreado norte-americano não sustenta mais esta equação face ao desemprego e a falta de confiança do consumidor, dentre outros fatores. As mudanças que estão em formação, em particular nos Estados Unidos, mas também no mundo todo, nos levam a concluir que a Era da Simplicidade começou. Ainda é um sinal fraco, mas está lá no horizonte, até porque a demanda do mercado norte-americano nunca mais será a mesma.
A Simplicidade como um movimento, já existia mesmo antes dos eventos econômicos. Em todos os aspectos. A diferença é que agora tornou-se imperativa. Não há recursos no planeta para sustentar o consumo da forma como estava. Nesta sociedade paradoxal, havia de um lado o excesso e de outro a exclusão de um grande contingente.
É possível perceber os sinais de mudanças. Estão por todos os lados. Por exemplo:
Pontos de Vendas: depois de décadas com projetos arquitetônicos mirabolantes a reflexão agora é menos. Lojas com menos elementos, seja porque os consumidores não conseguem ler todas as informações que colocamos na sinalização, seja para baratear os custos, seja para adequar-se a uma visão sustentável.
Pontos de Vendas: depois de décadas com projetos arquitetônicos mirabolantes a reflexão agora é menos. Lojas com menos elementos, seja porque os consumidores não conseguem ler todas as informações que colocamos na sinalização, seja para baratear os custos, seja para adequar-se a uma visão sustentável.
Produtos – Apesar do livro A Cauda Longa nos ensinar que cada vez teremos mais alternativas, as pessoas dividem-se de forma paradoxal. De um lado ficam estressadas com tantas alternativas, de outra pedem novidade o tempo todo, já que a obsolescência acontece no ato da compra. De qualquer forma veremos muitas empresas saírem dos negócios nos próximos anos, e as que ficarem irão depurar seus mix já que o momento pede reflexão sobre a curva ABC.
Insumos – Desperdiçamos muito do nosso planeta finito em elementos que vão para o lixo, no exato instante em que chegam às nossas casas. Um exemplo são as embalagens de proteção. Temos ainda muita redução, diminuição de elementos e revisão de matérias primas para fazer. Estas reduções geram economia em progressão geométrica: embalagens menores com insumos mais eficientes ou a ausência de invólucros propiciam economia de transporte, de armazenagem, de rupturas, combustível, etc. Algumas empresas já começaram, mas tudo está por fazer.
Menores Distâncias – O conceito de Carbono Neutro reforçou a importância de produtos originados de distâncias menores, da própria cidade, do próprio bairro. Na Itália, existem há muitos anos Clubes de Compras de Consumidores, como o G.A.S (Gruppo di Acquisto Solidale) que privilegiam fornecedores locais.
Luxo – Definitivamente o luxo contemporâneo é diferente do luxo ostentatório do passado, que ainda existe por aí, mas já embute códigos descompassados com o momento. É comum empresas deste segmento não utilizarem mais logomarcas nas fachadas e vemos que descolado hoje é misturar marcas de grife com peças muito básicas, muito simples e muito essenciais. Bom gosto sempre foi menos. Agora é “menos” ainda.
Casas – Nossas casas tornaram-se mais práticas, com menos móveis, menos adereços inúteis, menos formais e o uso de peças de demolição sejam pisos, portas ou móveis, tornaram-se uma expressão contemporânea.
Atitude – Jóias em excesso, casacos de pele, muita maquiagem, excessos de exposição de grifes, relacionamentos predatórios, grosserias com menos afortunados, vampirismo empresarial, exibicionismo – todos são aspectos que estão sub júdice. Ostentar tornou-se um descompasso. Costumo citar o exemplo de nosso maior patrimônio em glamour – a modelo Gisele Bündchen – uma pessoa básica do tipo jeans e camiseta. O glamour que a pessoa jurídica Gisele Bündchen vende, insere-se no mundo do entretenimento. É um sonho do mundo do show biz não vivido pela pessoa comum, nem pela pessoa física Gisele, que é pura simplicidade. O casamento dela foi emblemático desta atitude.
Os exemplos são incontáveis, mas é importante frisar: precisamos do consumo. É sobre ele que ancora-se a sociedade contemporânea, mas deve ser diferente. Porém, para que ele seja diferente, nós é que temos que mudar. Temos muita lição de casa para fazer.
Beth Furtado é autora do livro “Desejos Contemporâneos” e é sócia-diretora da ALIA, consultoria de marketing. É colunista do Programa Comercial & Cia on Radio, com “Idéias e Tendências” veiculado na BandNews FM às segundas-feiras às 21:20. Siga no Twitter (http://twitter.com/bethfurtado). Site: www.aliasite.com.br.
fonte: http://www.tedxsaopaulo.com.br/o-consumo-da-simplicidade/
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